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Entrevista Dra. Monica Scalco

Atualizado: 26 de nov. de 2020


Tivemos a chance de entrevistar Monica Scalco, formada na universidade de São Paulo em 1989 no curso de medicina com especialização em psiquiatria. Atualmente mora em Toronto no Canadá e trabalha no "Toronto Western Hospital".

A seguir, está o resumo de algumas das perguntas e respostas da entrevista:



1. Qual sua opinião sobre a forma que a sociedade em geral trata pessoas com transtornos mentais, sendo, depressão, bipolaridade, demência, déficit de atenção, estresse pós traumático, transtorno obsessivo compulsivo, etc.?

“Eu acho que tem uma diferença, não dá pra gente falar de todos eles juntos. O que acontece, por exemplo, com a depressão, que hoje em dia se tornou muito conhecida, muito famosa e todo mundo acha que tudo bem você ter depressão. Usando as vezes o termo até errado, fala ai ' briguei com meu namorado ontem, tô deprimida hoje'. E não é depressão isso do ponto de vista psiquiátrico... Agora do ponto de vista de outras doenças como esquizofrenia, doença mental, existe um medo, um estigma super importante na sociedade ainda... Quase todo mundo que tem uma doença mental mais grave, não conta pra ninguém. Porque tem medo de não ser aceito em lugar nenhum.”


2. Como psiquiatra, você pode perceber alguma diferença no comportamento dos seus pacientes durante a pandemia do coronavírus?

“Sim, em várias situações. A maior parte das pessoas sofrem muito com a pandemia e pensando que eu tenho muitos pacientes idosos e que esses sofrem ainda mais. Porque a vida de uma pessoa média, aposentada, seria caminhar um pouco, comprar pão, voltar, ver os netos, encontrar os amigos pra tomar um café… Isso tudo não é possível. Então têm muitas pessoas muito isoladas, principalmente nessa população que não tá acostumada, não sabe usar a tecnologia. Então eles estão muito muito isolados, e isso piora muito a saúde mental. Agora, tem outro lado disso também, eu tenho pacientes, por exemplo, que estão melhor agora do que estavam antes. Eu tenho paciente, por exemplo, as pessoas que têm doença do pânico. Eu to com um paciente meu aqui na cabeça… Ele tinha ataques de pânico e tinha que sair pra trabalhar, sair pra pegar o metrô pra ir trabalhar, tem duas crianças pequenas que ele tinha pouco contato, porque ele trabalhava longe... Eu falo com ele e ele diz ‘Dra., tô ótimo! Isso porque ele não sai de casa, então o problema pra ele vai ser quando acabar a pandemia agora, porque ele vai ter que voltar a sair e pegar de novo transporte público... Têm muitas pessoas com doença compulsiva obsessiva, por exemplo, que têm medo de contaminação e ficam o dia inteiro lavando a mão. Essas agora estão achando que tá tudo normal, nem acham mais que elas têm doença, que as pessoas aceitam que elas ficam o dia inteiro lavando a mão... Mas a maioria sofre, principalmente com o isolamento social"


3. Para uma pessoa que não foi diagnosticada com ansiedade mas que durante a pandemia passou a apresentar alguns dos seus sintomas como insônia, falta de concentração e preocupação excessiva, quais são suas recomendações para diminuir tais sintomas?

“Então, se isso tá num nível que tá atingindo muito o funcionamento da pessoa, por exemplo, se ela não tá comendo, tá perdendo peso, começou a ficar muito irritada dentro de casa, brigando com todo mundo, tá se isolando, não consegue mais falar com ninguém, vale mais a pena procurar ajuda... Pode ser que tá num nível já que precisa de tratamento. Agora, a maior parte das pessoas, tá um pouco ansiosa mesmo, com a pandemia. E aí, eu acho que nesse momento, se a pessoa, por exemplo, conseguir manter o suporte social dela, começa a fazer algum exercício... Então, reintroduzir o exercício na vida e agora eu acho que já tá numa fase de esperança, porque já tem vacinas né. Foi um milagre essas vacinas, elas estão sendo produzidas muito rápido. Costumava demorar seis anos pra produzir uma vacina. A última vacina que foi produzida foi a da herpes zoster, demorou três anos e já foi considerada um milagre. Essa daqui, em menos de um ano eles fizeram e tem duas, a da Moderna e da Pfizer, que são muito boas... É muito promissor o fato de que em tão pouco tempo, já conseguiu produzir a vacina, funciona 95%, segura, isso aí é uma luz no fim do túnel né, isso aí é uma alegria grande."


4. Voltando naquela questão que você até já tinha comentado, sobre as pessoas não estarem mais respeitando o distanciamento, e que muitas acabam desistindo. Que as pessoas estão realmente começando a sair, essa segunda onda tá vindo justamente pelas pessoas terem se flexibilizado, principalmente aqui no Brasil que começou a ter festa grande. As pessoas passaram de ficar lavando a compra do mercado pra ir pra festa. Você acha que principalmente agora que a gente já passou sete, oito meses em casa, com muita gente seguindo isso bem rígido, não saindo pra nada, existe uma questão de desgaste emocional e psicológico?

“Eu acho que sim, eu acho que isso tem a ver um pouco também que no início ninguém sabia direito com o que a gente tava lidando, como era exatamente a transmissão, então gerou um exagero. As pessoas chegavam em casa, lavavam toda a roupa... Então ficou muito cansativo fazer tudo isso, muita gente parou de pedir comida, pelo medo de vir contaminada... Mas então eu acho que teve um exagero e todo mundo cansou, e tinha o pensamento de ‘e agora, e se fosse pra ser pra sempre, tem isso também, será que agora nunca mais a gente vai se livrar? Vai ser assim pra sempre? Então quero nem saber, vou na festa mesmo’. Mas agora que é por pouco tempo, que a vacina logo vai ser disponibilizada para todo mundo, eu acho que tava na hora da gente focar no que importa... O que que não pode, o que que transmite: conversar de perto, falar alto… Teve uma época aqui (Canadá) que eles abriram os restaurantes e eu achei super interessante isso, que eles determinaram até qual era o volume da música que pode ter no restaurante, porque o que que acontece, se você põe música muito alta, pra você conversar com a pessoa, você tem que falar muito alto e quando você fala alto, você joga mais partículas de saliva. E isso é o que passa, é conversar de perto, cantar, falar alto, ficar respirando pertinho do outro, isso é o que passa a doença. Lógico, lavar a mão também é importante, porque se você coça o olho, a boca, quando você chega em casa, mas assim, não precisa aquele exagero todo."


5. Em sua opinião, você acredita que a quarentena é uma oportunidade para transtornos e doenças mentais serem mais comentadas por parte da mídia e da população? Como isso influenciará nossa sociedade?

“Eu acho que sim, eu acho que deveria ter mais informação pra todo mundo, sobre sintomas de ansiedade, depressão, o que que as pessoas estão vivendo e mais oportunidades de apoio, grupos de profissionais para apoio, acho que certamente isso faria uma diferença pra muita gente, se elas tivessem pra quem pedir ajuda.”


6. Quais hábitos você considera bons para que o período de quarentena e pandemia global sejam vividos mais facilmente, mantendo a saúde mental?

“Achar um jeito que você possa se exercitar... Achar meios de se manter em contato, cada um, dentro da sua realidade, tem que achar um jeito de se manter conectado com os amigos, ou com as pessoas mais próximas. E tentar também, descobrir outras coisas, talvez a gente fosse muito dependente de sair, ir no cinema, ir num show, ir no shopping… Eu sinto que muita gente curtiu isso, uma coisa que eles gostaram de fazer, mas que não teriam se permitido, se não fossem obrigados a descobrir coisas pra fazer em casa… Toda crise é uma oportunidade de crescimento também.”


Com isso, compreendemos com mais clareza, expandindo nosso conhecimento e com mais detalhes a relação entre transtornos mentais, na qual mais do que nunca é necessário uma atenção redobrada principalmente durante a pandemia do coronavírus.

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